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Pergunte ao Editor 1: Pergunta de Ivan Schmidt

PERGUNTA DE IVAN SCHMIDT, JORNALISTA E ESCRITOR, EDITORIALISTA E ARTICULISTA  DO JORNAL  “O ESTADO DO PARANÁ”, AUTOR DA BIOGRAFIA EDGAR ALLAN POE, NUNCA ESTIVE REALMENTE LOUCO.
 

- Pelas observações que tem feito e com a longa experiência acumulada em tantos anos de contato com as manifestações culturais, qual é o seu grau de satisfação com a forma com que os meios de comunicação tratam a cultura e a história da região Sul?
 

 Muito pouca satisfação. Acho que a imprensa nacional, inclusive a sulista, abre pouco e inconstante espaço para a cultura local, salvo raríssimas exceções, e sempre fica no ar o sentimento que fez um grande favor. Precisávamos ver mais entrevistas com pensadores como Noel Nascimento, José Carlos Veiga Lopes, Rui Cavalin Pinto, Adélia Maria Woellner, Valério Hoerner Júnior, Carlos Brantes, Carlos Zatti, Franncisco Filipak...

 

Pergunto quem conhece o Dicionário Paranaense do Prof. Filipak? Pois é! Quantos livros sobre a história do Paraná existem nas livrarias? Nenhum ou no máximo um. Sabe por quê? As livrarias não vão ocupar espaço com encalhes! E como é regra básica da economia, ninguém deseja o que não conhece...

 

Porém devemos lembrar que ninguém se compromete com o que não conhece e se reconhece como partícipe. Logo, se não divulgarmos a História do Paraná e do Sul, o que podemos esperar do futuro? Podemos constatar isto quando procuramos na História do Brasil o episódio do Cerco da Lapa... simplesmente não existe!

 

O próprio José Carlos Veiga Lopes, presidente da Academia Paranaense de Letras, mantém em sua fazenda em Palmeiras, um museu particular de arte popular brasileira, onde ele permite visitação agendada, mas quem já noticiou isto??? Tem mais de 10 títulos publicados sobre cultura e história regional, inclusive sobre a História dos municípios do Paraná tradicional (Aconteceu nos Pinhais), mas quem divulga? Alguém conhece o livro? Apenas o círculo imediato de relacionamento do autor que se desdobra para tentar fazer com que seu “recado” cheque à sociedade, na maioria das vezes com prejuízo financeiro.

 

Mas basta um autor, cantor ou artista de outra plaga vir aqui, que a mídia logo se esforça em divulgar... Se for estrangeiro, então?!?!?!

 

Sabemos que para que uma comunicação seja efetiva ela não pode ser esporádica, muito pelo contrário, tem que ser continuada. O que noto, não só na região Sul, mas em todo o Brasil, é um espaço sempre aberto para membros ilustres da sociedade ao lançar o seu único livro, geralmente lançando confetes em si e nos seus, justificando, assim, entrar para umas das muitas, ineficazes e desnecessárias instituições culturais que dividem forças numa “fogueira de vaidades” mas que nada, ou muito pouco, converte-se em benefícios para a cultura regional.

 

Eu não falo por mim que sempre encontrei acolhimento da mídia, até pelo fato pitoresco de falar da identidade paranaense sendo baiano (melhor, curitibaiano). Falo das dezenas de autores, cantores, compositores, artistas plásticos que fazem cultura de qualidade, mas são tratados como incômodos ou mendigos a implorar espaços dignos da sua produção. Se é boa ou ruim, deixe a própria sociedade julga, no meu entendimento.

 

Alguém conhece o maravilhoso CD COISAS DO PARANÁ do Beto Capeleto e do Reinaldo Godinho?? Alguém já fez uma entrevista de meia página com eles??? Nada! Quando sai é sempre no “cantinho”... A não ser que seja caricaturado, aí passar a ter destaque negativo.

 

Repito, sempre, que não podemos generalizar, pois existem jornalistas sérios e responsáveis que fazem a exceção, mas por conta própria e nunca como política institucional do veículo de comunicação. Temos que destacar os meios de comunicação do Rio Grande do Sul que ainda busca promover a cultura local e a identidade regional, de forma bairrista, muita vezes deformando a verdade (puxando a brasa para a sardinha deles) mas fazem.  

 

Gosto sempre de “pescar” da vida real, exemplos! Faça uma busca pelos meios de comunicação e veja o destaque dado ao exótico em comparação ao nativo. Autofagia? Não, descaso puro e simples!

 

Agora, tenho que falar que existe uma confusão muito reiterada aqui no Sul que é confundir cultura da terra com a cultura alemã, italiana, polaca...

 

Note-se que não podemos confundir ascendência e herança cultural que necessariamente se amalgamou em contato com outras origens dentro de um mesmo espaço geográfico, com ser alemão, ser italiano, ser polaco (isto mesmo, polaco e não polonês afinal falamos português e não francês e não aceito confirmar preconceitos e estigmas tolos).

 

Devemos lembrar que somos BRASILEIROS e, neste particular, SULISTAS e temos a obrigação, se não necessidade, de proteger o que fomos para poder entender o que somos enquanto povo, estado, região.

 

Esta observação serve para todas as regiões do país, em níveis diferentes mas é uma atitude constante.  Podemos notar que a verdadeira cultura carioca perde espaço para modismos! O mesmo pode-se afirmar da cultura baiana que ficou reduzida ao axé...e por aaí vai!

 

Se não nos preocuparmos e posicionarmos claramente, veremos os nosso jovens perdendo sotaques regionais para adotar aquela caricatura criada pelas novelas, retradicionalizando, irresponsavelmente, a partir de laboratórios cênicos e não como retrato efetivo da vida vivida e convivida pelos nossos antepassados.

 

Gostaria muito de ver cada região com a sua identidade bem definida. Gostaria de poder encontrar a cultura fluminense no Rio de Janeiro, a paulista em São Paulo, a baiana na Bahia, a paranaense no Paraná, a gaúcha no Rio Grande... Viva o sotaque! Abaixo a uniformização cultural.

 

Se cada identidade for preservada, valerá a pena conhecer cada região, seus sotaques e idiossincrasias. Ser diferente, afinal, não é ser melhor ou pior, mas é ser enriquecedoramente diferente, até para notar-mos que talvez nem tão diferentes... pois o homem caminha e ao caminhar faz história mas leva a história dos antepassados consigo.

 

É neste aspecto acho que a mídia falha, mas podemos mudar isto ao posicionarmos, enquanto consumidores, explicitamente quanto à nossa vontade. Lembremo-nos que “a história é semelhante a uma cetra: quanto mais para traz puxamos, mais para frente acertamos!”.

Anthony Leahy - Editor - editora@institutomemoria.com.br

 


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