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A LIÇÃO DO QUERO-QUERO NA LUTA PELA CULTURA PARANAENSE.

por Anthony Leahy

 Pintura Digital de Celito Medeiros

Vocês já notaram qual a reação de um pássaro “quero-quero” ao ver alguém chegar perto do seu ninho? São valentes! Enfrentam com barulho (muito) e intrepidez o possível agressor que ousa invadir os limites do seu ninho. É o seu jeito de defender a preservação da sua espécie.

Vejo aí um excelente exemplo de como deveríamos agir em relação às coisas do Paraná. Toda vez que notarmos um perigo de invasão das nossas tradições devemos “fazer barulho – gritar alto” para defender as nossas raízes, o nosso ninho, e assim, tal e qual o “quero-quero” defender a preservação da nossa identidade enquanto povo e estado.
Xenofobia? Bairrismo? Não! Que venha o novo para somar, para alimentar a dinâmica cultural necessária no desenvolver da própria sociedade. Mas não um “novo-pelo-novo”. Não um novo vazio, descartável e desconectado com a nossa história, a nossa luta e o nosso jeito de ser: não melhores nem piores – apenas nosso! Não um novo por simples substituição que aniquila a cultura paranaense, alienando e destruindo referenciais.

Esta dinâmica da evolução dos usos e costumes tem, necessariamente, que ser contextualizada, reflexo de um caminhar e construir do nosso povo, quer seja nascido ou adotado. Não pode ser uma mera imposição da mídia ou uma “esperteza” mercadológica. Senão continuaremos vendendo berimbaus, Cristos Redentores, Padre Cícero, Jangadas, (é só visitar Santa Felicidade em Curitiba e a Gruta do Monge na Lapa para conferir e constatar) ... e outras invasões e/ou apropriações desconectadas com a nossa forma de ser e ver o mundo. Desrespeito com nosso passado, com outras regiões que têm sua cultura apropriada e com os turistas...

Enquanto isto, nossos artesãos ficam desempregados e aumentam o caos urbano de violência e degradação da sociedade. Carrinheiros, pedintes, Mendigos ...! É difícil competir, inclusive, com os “artesanatos” industrializados pela da exploração escravocrata da China que também invadem o estado. E com o tempo, por não abrimos espaços para o que é nosso, para a nossa gente, terminaremos por acreditar que não temos cultura e identidade própria, quer seja a cultura tropeira, quer seja a cultura imigrante aqui amalgamada gerando uma totalmente nova e paranaense! E por acreditarmos nisto, passaremos a combater a tudo e todos que queiram defender o nosso ninho e as nossas tradições, a quem qualificaremos de exagerados, xenófobos, atrasados...

Já aconteceu com o NOSSO Chimarrão, que virou Gaúcho que souberam e sabem defendê-lo. Hoje ao notarmos alguém com uma cuia de chimarrão, ficamos espantados e, com uma orgulhosa(!) Coca-Cola nas mãos, ficamos fazendo graça do pretenso Gaúcho !?!

Pois é...

Nossa Vina já está em extinção! Agora é só salsicha. Nossa Setra virou Estilingue! Bolinhas de Búrico? Nem pensar! Ninguém mais sofre de “jojoca” e perdemos a possibilidade de “chorar uma ynhapa” nas nossas negociações. E como é difícil comer uma “polenta cortada com fio e queijo” ou “sapecar pinhão”! Comer cuque, schnecke e rollmops? Nem pensar... Que pena.

Pois é! Perdemos até o “bidê” ao lado da cama...

Saudosismo? Pode ser! Mas o grande e real perigo é deixarmos que façam da nossa cultura um trubisko...

Resta-me lembrar a nossa poetiza maior, Helena Kolody:

“ Em vão percorro a cidade
com meus olhos de antes.
As ruas não são as mesmas . . .
E são outros os passantes.”

Nosso maior inimigo é o nosso descaso com as nossas coisas e com o nosso caminhar! Nosso desprezo com o nosso ninho! Nosso maior compromisso tem que ser honrar as lutas dos que vieram antes e com o Paraná que queremos deixar para as futuras gerações, para nossos filhos e netos.

Afinal, o Paraná que queremos somos nós que fazemos! Não o governo, nem o vizinho... mas, antes, cada um de nós, juntos, lutando por um Paraná cada vez mais Paraná.

Anthony Leahy
Editor do Instituto Memória


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