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GAZETA DO POVO - Alcione Prá - autor do livro Paraná: Das Cadeias Públicas às Penitenciárias

A Solução é regionalizar as penitenciárias

Entrevista com Alcione Prá, sóciologo

Valterci Santos/Gazeta do Povo / “A próxima etapa do sistema será levar o regime semiaberto (modelo da colônia penal agrícola) e a penitenciária feminina para o interior

Foto: Valterci Santos/Gazeta do Povo

Publicado em 04/05/2009 | João Natal Bertotti

Contar histórias e curiosidades sobre as cadeias públicas e as penitenciárias do Paraná. Com esse objetivo, o sociólogo Alcione Prá lança no próximo dia 19, em Curitiba, o livro Paraná: Das Cadeias Públicas às Penitenciárias (1909-2009). A obra resgata como eram as cadeias do Brasil Colônia e a última cadeia pública da capital, fechada em 1898. E conta como foi a primeira rebelião do estado, no antigo presídio do Ahú, que virou documentário. Segundo o autor, que é servidor público e trabalhou 21 anos no Departamento Penitenciário (Depen), o livro tem outro fatos interessantes. “Um deles é sobre uma fuga de um preso na Penitenciária Central do Estado (PCE), em Piraquara, na região metropolitana de Curitiba. Ele saiu com o uniforme da Polícia Militar.” Leia abaixo os principais trechos da entrevista exclusiva concedida para a Gazeta do Povo.

O que o seu livro revela sobre o sistema penitenciário do Paraná?

Ele faz um resgate desde as cadeias públicas do tempo do Brasil Colônia, contando todas as dificuldades encontradas para construir cadeias em Curitiba e no Paraná, até o final do século 19, mostrando também a última cadeia pública construída na capital (1898). Ele também conta como surgiu o sistema penitenciário no estado, hoje com 24 penitenciárias. Tudo começou com o presídio do Ahú, em 1909, no prédio adaptado do Hospício Nossa Senhora da Luz. O presídio foi concebido com um novo conceito, humanizador e para recuperar a pessoa, no sentido de ressocialização. O objetivo não era apenas de observar o preso, deixando que o indivíduo perecer por doença e fome. A ideia era recuperar a pessoa. Isso incluía a aprendizagem de uma profissão e a oferta de ensino, com trabalho remunerado. Assim, o presídio do Ahú foi um divisor de águas. As antigas cadeias públicas eram muito ruins, não tinham boas acomodações e eram insalubres.

Qual é o modelo de inspiração do sistema penitenciário do Paraná?

O modelo seguia a linha de educação e profissionalização, com as unidades na região de Curitiba até meados dos anos 80. Depois, veio a descentralização, com a construção das penitenciárias no interior, em Londrina e Maringá. E, adiante, as penitenciárias industriais e todas as outras, e os centros de detenção e ressocialização, numa concepção paulista.

O sistema evoluiu com as mudanças e com o novo conceito de prisões?

A construção de unidades no interior melhorou, porque assim se mantém as famílias perto dos detentos, sem formar bairros no entorno das penitenciárias, como a Vila Macedo, em Piraquara, na porta da Penitenciária Central do Estado (PCE). O melhor é regionalizar as penitenciárias nas principais cidades. A próxima etapa do sistema será levar o regime semiaberto (modelo da colônia penal agrícola) e a penitenciária feminina para o interior. Ele já existe em Ponta Grossa e Guarapuava.

O seu livro trata de cada uma das unidades, abordando, por exemplo, a última. No entanto, não há informação sobre as facções criminosas no Paraná, como o primeiro Comando da Capital (PCC), que promoveu a rebelião mais violenta da PCE. O senhor sofreu censura para escrever a obra?

Na verdade eu não pensei nas facções. Eu pensei em contar a história da criação do sistema em si, desde as cadeias até as penitenciárias. Não levei para esse lado, com esse olhar especial sobre as facções, porque foi muito recente, não é algo antigo. Mas não houve censura alguma.

Como foi a primeira rebelião registrada no estado?

Ela aconteceu no presídio do Ahú em 1931. Morreram soldados, detentos e dez presos conseguiram fugir. Os líderes eram os famosos bandidos Rodolfo Kindermann e João Papst, presos por assaltos à ferrovia e pela morte de dois funcionários, um de Curitiba e outro de Porto Alegre. Eles fizeram um levante no Ahú, matando o guarda da porta de entrada. Armados de revólver, porretes e marretas, invadiram o alojamento dos militares e mataram cerca de sete soldados. A rebelião aconteceu num domingo, mas já na quarta-feira seguinte, João Batista Groff, cinegrafista proprietário da Groff Filmes, passou a exibir o documentário cinematográfico sobre a revolta do Presídio do Ahú, com registros do confronto armado e cenas de vandalismo. Os personagens centrais eram João Papst, Rodolfo Kindermann e Martha Schemedeke. Foi um furo cinematográfico. O cinema surgiu no Brasil em 1910, e Groff já era consagrado em 1930, com documentários.

A sua obra conta um pouco da história de Curitiba, como as pessoas viviam no passado?

Há relatos disso, algumas curiosidades e registros de alguns fatos pitorescos. Eu comecei a fazer a pesquisa para os diretores do presídio do Ahú, e, depois, passei a ouvir os diretores de outras unidades. Também consultei documentos que estão no Arquivo Público do Paraná, na Biblioteca Pública, no antigo presídio do Ahú, além de jornais, como a Gazeta do Povo.

Com a pesquisa descobri fatos interessantes, um deles sobre uma fuga na PCE, na qual um preso saiu usando o uniforme da Polícia Militar. Em outro fato interessante, em 1940 um diretor foi chamado no meio da noite porque havia problemas com um preso. Aí, o diretor foi lá e começou a brigar com o cara. Ele só parou de bater quando ele desmaiou. Há ainda o caso de um escrivão de polícia que conta o estupro de uma adolescente com linguagem poética: ‘a menor, risonha e travessa, vinha pela estrada deserta que vai de sua casa, na Colônia Orleans, para o Colégio das Freiras, quiça pensando em folguedos próprios de sua tenra idade, ora colhendo uma flor na beira da estrada (...) até que na sua frente surge um indivíduo (...)’.

Os crimes cometidos naquela época se repetem hoje?

Há um equívoco muito grande em pensar que os crimes atuais são consequência da modernidade. Alguns delitos são bem antigos. Por exemplo, o jogo do bicho, as casas de jogos, a prostituição infantil e bordéis já existiam naquela época. Em 1925, já se falava muito no consumo de ópio, morfina e cocaína, os chamados venenos sociais. Antigamente também havia tráfico de drogas, sequestros, roubos e assassinatos.

* * *

Serviço

O livro Paraná: Das Cadeias Públicas às Penitenciárias (1909 a 2009), do Instituto Memória Editora e Projetos Culturais, será lançado no dia 19 de maio, às 19 horas, no Palacete dos Leões, Espaço Cultural BRDE, na Avenida João Gualberto, 530, no Alto da Glória, em Curitiba. O exemplar custa R$ 55. Mais informações no telefone (41) 9155-7135.


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