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Mercado editorial e o espaço para literatura brasileira

O escritor e editor Anthony Leahy (centro) com o presidente da Academia Paranaense de Letras o Carlos Zatti (dir) do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná

O escritor e editor Anthony Leahy (centro) com o presidente da Academia Paranaense de Letras, José Carlos Veiga (esq) e Carlos Zatti (dir) do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná

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Em comemoração ao Dia Nacional do Livro (29/10), as Livrarias Curitiba Megastore do ParkShopping Barigui realiza às 19h30 um debate sobre Os Desafios de Publicar um Livro, com o escritor, pesquisador Anthony Leahy, membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná, da Academia de Cultura de Curitiba e da Academia Brasileira de Arte, Cultura e História. Autor e editor de diversos livros e revistas, Leahy é referência no mercado editorial e defende a cultura regional e a diversidade cultural nacional. Durante o evento, o escritor, médico geriatra e vice-presidente da Associação Médica do Paraná, João Carlos Baracho, lança o livro “Paixão não tem Idade”.

Leahy é o idealizador do Instituto da Memória, que surgiu em março de 2003 como Projeto incubado pelo programa Rede Solidária da CNBB em parceria com a Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) e a Santa Casa (Aliança Saúde). Desde a sua fundação, o Instituto Memória teve como proposta atuar como Editora especializada em Pesquisa Histórica e Projetos Culturais. Segundo ele, o Instituto recebe os originais dos autores, que são avaliados por um Conselho Editorial formado por profissionais doutores. Depois passa por um Conselho Comercial, que julga se há mercado para o perfil do livro. Se há mercado, o livro é lançado por conta da editora, caso contrário, o autor deve comprar alguns exemplares para diminuir os riscos. Da fase de recebimento até o lançamento do livro leva aproximadamente um mês, com uma demanda digital ágil e pouco vista. O lançamento do livro acontece na cidade do autor e depois é distribuído para todo território nacional. Acompanhe a entrevista com Anthony Leahy sobre o mercado editorial.


 

Canal Cultura - Qual é o espaço para a cultura e a história na literatura brasileira?

Anthony Leahy- Se estivermos falando de cultura e história brasileira, infelizmente é muito pequeno. A não ser se for livros de pessoas famosas, mas quem aparece é a pessoa e não o conteúdo do livro. Muitos compram apenas por status… Não é a toa que sabemos mais da mitologia da idade média europeia, sabemos tudo do Halloween, e não sabemos nada das nossas próprias crendices e imaginário popular. Em vez de Cuca, temos Magos! Em vez Sacis, temos cíclopes! Assim, nossos jovens são incentivados a promover/consumir a cultura forânea e virar as costas para nossa própria identidade. Vendemos nossa alma e viramos zumbis obedientes. Retradicionalizamos tudo para atender a coerção do grande e descomprometido mercado. Quanto mais iguais e menos críticos, menos adaptações do processo produtivo para atender as diferenças regionais e até entre países. É  a cultura de shopping: Em qualquer lugar do mundo, todo shopping é igual! E o pior é que cada vez mais os seus frequentadores também. Mesmas gírias, mesmos sutaques… pasteurização.

CC -  E o interesse da população por esses temas mais regionais e históricos?

AL – Nenhum! Esta fora de moda ser regional. Por isto somos cada vez menos universais, pois cada vez entendemos menos da nossa própria aldeia. E se nós não nos valorizamos, quem valorizará? Quando falo de regionalismo não falo de abrir mão do mundo mas, antes, falar com ele de igual para igual. Se Globalizar é abrir mão do nosso desenvolvimento histórico-cultural e ficar macaqueando outras culturas, Então, desculpe-me, estou fora! Prefiro ser caipira.

CC -      Qual é o perfil do leitor desta área?

AL -Geralmente acima de 50 anos, que ao notar-se envelhecendo sente necessidade de encontrar-se enquanto pertencente a um processo maior do que a própria vida dele. É a necessidade de continuidade. Afinal, somos a conexão entre o passado e o futuro. Somos o único animal que realiza conexão inter-temporal. Abrir mão disto é reduzir-se aos instintos igual aos outros animais. Costumo afirmar que não proponho viver de/no passado, mas que o passado faça parte do nosso futuro, posicionado-nos diante de nós mesmos. Somente assim poderemos nos respeitar e, consequentemente, respeitar aos outros.

CC-      O que há de incentivo para a publicação de livros e o mercado para escritores?

AL -Pouco e sempre muito difícil acesso. Geralmente tem que ter QI (quem indicou). Mas acho que estamos começando a entender que Buenos Aires não pode ter mais livrarias do que o Brasil inteiro. E quando a sociedade entende, o governo apressa-se. Estamos até produzindo mais, porém perdemos muito em qualidade e proposta. O que interessa é apenas o sucesso comercial, então, como os fins justificam os meios… os diários de prostitutas valem mais do que os discursos de Rui Barbosa. É a vitória dos perdedores. O que vale é a performance comercial! Tanto faz se pornografia ou Machado de Assis. Vendeu? Então é bom. Não vendeu? Devolve! Escutei isto de um diretor de uma grande rede de livraria.

CC-      Até que ponto o ritmo o acelerado de desenvolvimento tecnológico rompe com o conhecimento das raízes culturais?

AL -Tecnologia é meio e não fim! Caminho e não ponto de chegada. Acredito que facilita as pesquisas e a comunicação.

CC-      As pessoas gastam com automóveis, casa, alimentação e não costumam priorizar a compra de livros.  Embora tenha sido considerado uma grande invenção da história, pelo menos no Brasil não há o hábito da leitura. Como está essa relação entre o que é produzido e o que é lido no país?

AL -Para o brasileiro livro é caro! Infelizmente gastamos R$ 100,00 em um almoço ou barzinho, e achamos R$ 50,00 caro para um livro. Um livro lemos, relemos, emprestamos, … ou seja, diluindo o investimento pelo tempo de vida e a utilidade, entenderemos que livro é muito barato. E pode ficar mais barato, basta aumentarmos o mercado leitor para que viabilizar maiores tiragem e assim uma economia de escala. Comida, em 24 horas, já retornou à natureza… Nossas prioridades nos definem! Estamos virando porcos e os restaurantes de comida a quilo são os nossos chiqueiros… Comemos, bebemos, estamos obesos e burros! Estamos abrindo mão da chama divida que nos diferencia dos outros animais. Moral e ética ssão componentes culturais e precisam ser ensinados. Mas um povo que ler, é um povo que reinvidica! E para quem é interessante promover um povo reinvidicador? Consciente dos seus deveres e de seus direitos? Melhor é distribuir bolsas e cotas…


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